Hoje celebramos a lua cheia de dezembro. Encaminhamo-nos já cara à chegada do tempo de natal, que começa com a véspera de Santa Luzia, treze noites até a chegada do dia do Sol Invicto. Na Galiza, como noutros lugares da península, conserva-se uma figura mitológica –um génio temporal– que personifica o tempo do inverno: o Apalpador. Este gigante partilha características fundamentais com outros espíritos deste tempo como o Olentzero e outras figuras europeias que poderemos agrupar por comodidade baixo o termo “Pai Natal” (Father Christmas, Papa Noël, Ded Moroz…).
Segundo a tradição, o Apalpador ou Pandigueiro baixa das montanhas durante a Noite Mãe (a véspera do Dia de Natal) para apalpar a barriga das crianças, comprovar se fôrom bem alimentadas ao longo do ano e deixar uma presada de castanhas como prenda. Estas celebrações domésticas ao redor da figura do Apalpador têm a função de actos auspiciadores para trazer fartura às crianças. Precisamente, a figura do Apalpador (do mesmo jeito que o Olentzero) tem-se relacionado com gigantes paidófagos ou simplesmente puericidas como o Coco ou o Velho do saco, pois não deixa de ser um génio do inverno e como tal leva consigo quem não consegue superar com vida os seus rigores.
A sua recuperação e conservação recentes não têm significado apenas a sobrevivência de um mito que nos conecta com a nossa tradição e com as crenças espirituais de boa parte do nosso contexto, mas também uma oportunidade de vindicação das tradições próprias perante aquelas alheias como o Santa Claus, figuras esvaziadas de conteúdo e promovidas pelo consumismo e o imperialismo estado-unidense.
Para celebrarmos este génio do tempo invernal trago-vos a cantiga recolhida em 1994 por Lôpez Gonçález à informante de Romeor de Courel Amadora de Galego, de 79 anos. Eis o texto:
Vai-te logo meu ninim, marcha agora pra caminha. Que vai vir o Apalpador a palpar-che a barriguinha. Já chegou o dia grande, dia do nosso Senhor. Já chegou o dia grande, e virá o Apalpador.
Manhã é dia de cachela, que haverá gram nevarada e há vir o Apalpador c'uma mega de castanhas. Por aquela cemba já vem relumbrando o senhor apalpador para dar-vos o aguinaldo.