25 de julho

Noutra publicação anterior, barruntava sobre a divindade galega masculina e concluía com a ideia de que abaixo da cristianização de Santiago atopavam-se multidão de camadas divinas anteriores: germanas, romanas e celtas. Era logo o Deus quem se agochava baixo uma nova faceta, um deus comum a Wotan, Apolo, Mercúrio ou Lugo. Aquilo que sim temos claro é que Santiago é o Patrão da Galiza. A sua festa, o 25 de julho, é celebrada por todo o país, e por causa disto a II Assembleia Nacionalista de Compostela decidiu em 1919 marcar nesta data o Dia Nacional da Galiza.

Também, por volta desta data na Galiza, começa o tempo da seitura, o trabalho que marca uma das Festas Mores do calendário litúrgico-agrário pagão contemporâneo.

Esta celebração neopagã do tempo da seitura afunda as suas raízes nas celebrações do Lughnasadh, a Assembleia do Lugh, uma festa de origem irlandesa que celebra o sacrifício da Tailtiu (sua mãe), que segundo a mitologia irlandesa morreu após preparar para o trabalho todas as terras da Irlanda. Podemos logo se queremos ver aqui mais um ponto de ligação entre Santiago e a divindade masculina galega.

(Foto extraída de Galiza Fotos)

"pelo São João seca-lhe uma raíz ao pão,
pelo São Pedro seca-lhe a do meio
e pelo Santiago foucinhos ao agro" 
                                                              — ditado popular

Estamos, em qualquer caso, diante duma das grandes celebrações da espiritualidade galega. O Santiago peregrino, o Wotan Velho, é celebrado por toda a Galiza e concentram-se no espaço e no tempo os caminhos que de toda Europa chegam à capital galega para celebrar este tempo de meio-verão. Aliás é, como dixemos ao início, o Dia Nacional da Galiza. Concentra-se logo nesta data uma dupla dimensão: espiritual e nacional.

Desta segunda dimensão, a reafirmação nacional do Povo Galego nesta data tem mais de um século de história. Uma celebração consolidada no imaginário colectivo e ritualizada na celebração de cerimonias oficiais e populares: cerimónia das Medalhas da Galiza, manifestações, jantares populares…

Dentro desta dimensão política é sempre interessante lembrarmos a Alba de Glória, o texto que Castelao escreveu em 1948 no exílio em comemoração do nosso Dia Grande, e que unifica a afirmação política com o nosso cerne espiritual, trazendo novamente os nossos ancestrais numa companha única. Um texto sempre lembrado nestas datas e digno de comemorar.

[...]

Em quanto a Santa Companha dos imortais se perde na revolta dum caminho, detrás dum pinheiral, vemos surgir do humo da Terra-Mãe, saturada de cinzas humanas, uma multidão infinita de luzinhas, que são os inominados que ninguém recorda já e que, juntos, compõem o substrato insubornável da nossa Pátria.

Essas ânimas sem nome são as que criárom o idioma, a cultura, as artes, os usos e costumes, o feito diferencial da Galiza. Elas são as que humanizárom a nossa terra pátria infundindo a todas as cousas que na paisagem se nos amostram o seu próprio espírito, com o que pode dialogar o nosso coração antigo e panteísta.

Elas custodiam no seio da terra os legados múltiplos da tradição, os germes incorruptíveis da nossa futura história e as fontes enxebres do nosso génio. Essas luzinhas são o Povo, que nunca nos traiu; são a energia coletiva, que nunca perece; são, em fim, a esperança celta, que nunca se cansa. Esta multidão de luzinhas representa o que fomos, o que somos e o que seremos sempre.

                                                                                                            — Castelao, Alba de Glória

Deixo-vos logo a recriação do discurso que Castelao nos legou e a edição publicada pelo Conselho da Cultura Galega

Viva Galiza ceive!

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